| Com Nada além da verdade, o Tordesilhas publica no  Brasil uma das mais promissoras vozes da nova geração 
                de escritores americanos 
                  
                    |  | Comparado ao  escritor Saul Bellow pelo jornal The  New York Times, Alex Gilvarry surpreende a crítica americana em romance  de estreia pelo apurado domínio da técnica literária. |  |  
 Comparado ao  escritor Saul Bellow pelo jornal The New  York Times, Alex Gilvarry publica pela Editora Tordesilhas seu primeiro  romance, Nada além da verdade. Dotado  do chamado humanismo contemporâneo, Gilvarry dosa o tom satírico que permeia a  narrativa aos horrores vivenciados por Boyet Hernandez, um estilista filipino  preso na base de Guantánamo sob suspeita de terrorismo. Com apurado  domínio literário, o escritor manipula o narrador e a própria técnica narrativa  conferindo autonomia e potência ao personagem que escreve suas memórias. Para  tanto, utiliza-se de recursos como a presença de um editor que interfere no  texto por meio de notas de roda pé. A  partir de pesquisa sobre o mundo da moda e em sua vivência pessoal da Era Bush,  Gilvarry conta a história do estilista filipino Boyet Hernandez que parte para  Nova York em busca de realização profissional e vê desabar o sonho americano. O  relacionamento de Boy, como passa a ser conhecido no cenário nova-iorquino da  moda, com Ahmed, um “vendedor de tecidos”, acaba por colocá-lo na lista de  suspeitos da Guerra ao Terror. Sem processo nem explicações, um dia Boy é  levado para a base de Guantánamo e submetido a tratamento brutal, que ignora as  convenções internacionais de Direitos Humanos. Sozinho em  sua cela, Boy ganha papel e caneta para escrever suas “confissões”.  Alternando-se entre cenas na prisão de Guantánamo – ou Terra de Ninguém, como  ele a chama –, e a história de sua ascensão como estilista profissional, Nada além da verdade estabelece  paralelos entre a maneira como mitificamos as celebridades e o modo como  encaramos os terroristas.  Mas  esta é também uma declaração de amor aos Estados Unidos – “Este grande  sacana”–, que transparece na maneira afetuosa como Gilvarry descreve a cidade  de Nova York. E quanto mais a fé de Boy no sistema judiciário americano é  usurpada pelas exigências kafkianas de seu interrogador, mais ele se agarra à  esperança quimérica e à humanidade de seu país adotivo.  Engraçado  e inteligente, Nada mais que a verdade é tão arrebatador que está destinado a permanecer na imaginação do leitor e no  panteão literário destes tempos estranhos.
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